No Livro “Grãos – Coletânea Histórica”, editado em 2008, de autoria da historiadora gramadense Marília Daros (in memorian), encontramos - a partir da página 225, uma história que conta sobre a Rádio Excelsior, que durante anos foi uma grande referência para a comunicação gramadense e do Rio Grande do Sul para o Brasil e para o mundo, tendo as atividades encerradas no ano de 2018, seguido da desapropriação, em 04 de abril do mesmo ano, e, por consequência, a reintegração de posse do prédio situado em área pública, na Avenida das Hortênsias, 78, Bairro Bavária, local que por 40 anos sediou a emissora AM 1440.
O que a nos diz a historiadora Marília Daros?
“Fazia alguns anos que o Sr. Amabílio Joaquim Lopes de Castro olhava para Gramado de uma forma diferente, pois, além de gostar da cidade, convivia com ela.
Ele era proprietário da Rede Visão de Comunicações, com três emissoras AM operando: uma em Canoas e duas em Montenegro. A oportunidade bateu à sua porta quando acontecia um evento que contava com a presença do Ministro das Comunicações, Quant de Oliveira.
Nesta data ficou a constatação que Gramado, uma cidade de renome no Brasil inteiro, não possuía uma rádio doméstica.
No dia da assinatura do Plano Básico de Ondas Médias, na solenidade que ocorreu no Hotel Serra Azul, foi incluído, também, entre outras necessidades técnicas, o canal 1510 Khz para Gramado.
Quando os editais de convocação para a exploração desta rádio foram publicados, o Sr. Joaquim de Castro e o radialista Marney Barcelos prepararem os documentos necessários e foram escolhidos.
Ao que consta, ninguém se habilitou para esta concorrência.
Uma das maiores dificuldades depois desta compra, foi encontrar uma área para colocar os radiais, que são 120 cabos de cobre com 54 metros enterrados.
Assim, era preciso um terreno com 108 metros.
Quando o terreno tinha esta medida, ou não tinha água, ou não tinha luz.
Contando com o apoio do Prefeito da época, Nelson Dinnebier para desviar o curso da estrada da Linha Ávila e ocupar a área onde finalmente se instalaram, as atividades de estruturação iniciaram.
A rua do antigo Tiro de Guerra precisou ser desviada para garantir o espaço para a torre.
O prédio foi construído num tempo Record nacional de 90 dias, desde a terraplanagem do terreno, torre, estúdios e a montagem dos aparelhos, feita pelo técnico de rádio que até hoje dá assistência a esta rádio, Émerson da Silva Bueno.
As características arquitetônicas deste prédio a diferenciam das demais rádios de nosso estado.
Tio Luiz (Scalcon) é uma parte viva desta história e seu depoimento registra estes fatos construtivos.
Uma curiosidade: o número do prédio foi escolhido pela data do ano, pois era um caso isolado de desvio de rua.
O contrato entre a emissora e a Prefeitura Municipal de Gramado para a concessão de uso de terreno público, foi firmado em 20 de julho de 1978.
Este contrato foi transformado em Lei Municipal de número 615/80 de 19 de setembro de 1980, pelo Vice Prefeito em exercício, Mário Tissot, posteriormente à inauguração e funcionamento da emissora.
No dia 12 de outubro de 1978 a emissora entrava no ar em caráter experimental.
Conforme depoimentos dados na época, por Cláudio Candiago, Gentil Bonatto, Enoir Zorzanello e Nelson Dinnebier, “esta rádio vinha preencher um claro que existia no plano de comunicações de nosso município”.
Coincidentemente, o Jornal de Gramado também iniciava suas atividades, na 1ª fase, em 21 de setembro de 78.
A inauguração da Rádio Excelsior foi no dia 13 de outubro de 1978, sexta-feira, no Cine Embaixador, com um show artístico, de entrada franca, a partir das 10 horas da manhã.
No palco desfilaram artistas trazidos pela nova emissora, como o Conjunto Impacto, de Porto Alegre.
No dia 14 de outubro de 1978, às 10h30min foi oficialmente inaugurado o prédio da Rádio Excelsior de Gramado, com a presença de autoridades e convidados da direção da emissora.
Na oportunidade falaram o diretor Marney Barcelos de Souza e o Prefeito Municipal Nelson Dinnebier, e após, foi dada a bênção pelo pároco de Gramado, Cônego Isidoro Bruxel.
Depois desta cerimônia, aconteceu um churrasco para mais de 200 convidados no CTG Manotaço, oferecido pela direção da nova Rádio de Gramado.
Reinaldo Ribeiro da Silva foi o radialista que trabalhou como titular do Departamento de Radialismo da nova rádio.
No decorrer do dia, com a emissora já na ativa, pode-se ver a qualidade do som e seu alcance, pelo grande número de telefonemas recebidos de ouvintes não só de Gramado, mas de toda a região serrana.
No 1º aniversário da rádio, em 1979 foi repetido o Show no Cine Embaixador, coma presença de: Sidnei Lima, Moraezinho, Carmen Silva, Gilberto Sta. Maria e Luiz Eugênio.
O almoço de comemoração aconteceu no Hotel Bavária.
Sob a direção geral e Raul Albuquerque a rádio, na época 1430 AM, procurava dar qualidade técnica nas transmissões, pois considerava a rádio como “a voz do povo”.
Eram produzidos os comerciais, as vinhetas...
Em 1989 o equipamento foi todo substituído por novos, de tecnologia gaúcha e nacional, fabricados pelo próprio Raul.
O tempo passou e depressa Gramado cresceu, mantendo a Excelsior em sua companhia, na companhia da comunidade.
Ao completar 20 anos a nossa AM de Gramado realizou mais um evento, na Churrascaria Três Reis, sob a liderança do radialista Voltencir Fleck.
De lá para cá, aumentaram a potência, passando sucessivamente, de 250 watts, para 500, 1000 whatts.
Entre março, abril e maio deste ano de 2002, o prédio foi recuperado, as salas redecoradas e adaptadas para um novo tempo!
Em 4 de maio deste ano, às 22 horas e 30 minutos, a Excelsior entrou no ar novamente, com o novo equipamento, com programação normal, em caráter experimental.
Dia 13, às 6h50min, um fato marca a Nova Excelsior: Voltencir Fleck faz a primeira interferência no Programa “Gaúcha Hoje”, do jornalista e radialista Rogério Mendelski, pela Rede Gaúcha Sat: é a Excelsior mostrando e marcando a sua presença e ampliando a sua história, saindo da nossa comunidade de ouvintes regionais, para a abrangência da Rádio Gaúcha.
Esta rádio é um marco das comunicações em Gramado, sempre com um trabalho voltado para o social, a comunidade, a cidadania.
Os direitos e as aspirações de nossa comunidade.
Nestes dias festivos, quando tudo parece recomeçar com mais vida e força, quero deixar o meu presente nesta pesquisa, animando a todos para que invistam na Excelsior e acreditem na força da rádio para o crescimento de uma comunidade, pois foi exatamente isto que a nosso Rádio Excelsior fez desde a sua fundação.
Parabéns a todos os que nela trabalharam e trabalham.
A todos os que nela acreditaram e acreditam.
Em todos os seus momentos históricos.
Assim Gramado e gramadenses abriram seus espaços.
Assim é que a nossa terra vive: passando o tempo, com o ouvido ao pé do rádio.
Um rádio que hoje, mais do que nunca, está sintonizado na nossa Rádio Excelsior!
ADENDO:
Fiz programas radiofônicos na Rádio felicidade por muitos anos e os tenho todos gravados.
Foi um tempo muito especial de grande aprendizado no diálogo com o público e no retorno que a rádio proporciona ao radialista.
Mas na Excelsior atuei por mais de quatro anos, falando diariamente sobre a história da comunidade de Gramado e regional.
Amava fazer estas interferências históricas e quero deixar registrado que sempre foram gratuitas: não cobrava meu trabalho e não pagava o espaço.
Uma parceria que o tempo interrompeu por “n” motivos que não interessam mais agora, mas que me garantem até hoje uma pergunta dos meus ouvintes:
- Quando voltas para a Excelsior?”
- “Um dia desses!”, respondo...
Fontes:
Jornal de Gramado
Revista Paralelas
Documentos do Arquivo Histórico Particular Hugo Daros
Fotos:
Voltencir Fleck/ Arquivo pessoal.
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